quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Colégio General Osório traz Celso Vasconcelos ao município feirense





















O educador e autor Celso Vasconcelos* esteve nessa segunda-feira (24), em Feira de Santana para conferir palestra numa iniciativa do Colégio Estadual General Osório, através da sua equipe gestora.

O tema da palestra realizada no Teatro Municipal Margarida Ribeiro foi "(In)Disciplina: A Questão do Interesse e da Mobilização - Desafios e Perspectivas Contemporâneas", e "Avaliação: Superação da Lógica Classificatória e Excludente - do “é proibido reprovar” ao é preciso garantir a aprendizagem".

Na oportunidade, concedeu entrevista à jornalista Maria José Esteves, Assessora de Comunicação da Direc 02:

Bom dia, professor! Como culminou sua vinda a Feira de Santana com essa parceria com o Colégio Estadual General Osório??

Bom dia! Eu já tinha vindo a Feira em 2009 através da empresa Crescer e agora voltei a receber o convite, então vim para passar este dia de reflexão com os professores.

Dentro do tema que será abordado dentro de instantes, por que, em sua opinião, a grande maioria das escolas e professores insiste em manter o tipo de avaliação tradicional?

O peso histórico é enorme. São mais de novecentos anos com esse tipo de prática dentro de um combinado onde uma coisa acaba levando a outra. A própria organização dos currículos fragmentados em disciplinas, fragmentados em horários de 45 em 45 minutos, acaba propiciando esse tipo de avaliação, que acaba reforçando esse tipo de currículo. Ao mesmo tempo existe aí os problemas na formação do professor e a complexidade de lidar com a indisciplina em sala de aula, e a avaliação aparece como uma estratégia de controle. Por outro lado você tem uma sociedade com famílias perdidas não sabendo como trabalhar os valores, isso acaba também explodindo em sala de aula e aí a avaliação aparece como essa arma de controle. Não se trata de julgar pessoalmente ou individualmente um ou outro professor, mas uma lógica que está montada e que acaba induzindo por vários aspectos, desde a formação até a desorientação social que leva a usar a avaliação não como elemento de crescimento, mas como elemento de controle e até de exclusão em última estância.

Em sua opinião, a avaliação classificatória, excludente, sobre o ponto de vista pedagógico provoca a não aprendizagem, uma vez que o aluno pensa mais na nota do que no aprender? Vale lembrar que foi a própria escola que o condicionou a pensar em notas.

Pois é, porque essa nota classificatória excludente, essa coisa de você avaliar para aprovar ou reprovar, na prática ela acaba desviando o objetivo do ensino. O aluno pensa em nota, o professor pensa em nota, o diretor pensa em nota, os pais pensam em nota. A intenção é muito boa de avaliar, de se dar nota para que a criança se esforce, mas na prática acaba desviando todo o objetivo do ensino. É uma grande distorção que está colocada aí. Sob o ponto de vista pedagógico, sob o ponto de vista ético que acaba tratando o aluno como se fosse um objeto. Tem várias reproduções aí , sob o ponto de vista psicológico, por exemplo, quando o aluno vai introjetando a culpa, a incompetência, então, quando você analisa friamente o estrago é muito grande. E porque então continua? Justamente pelo aspecto anterior, a sistemática está montada onde ela acaba sendo a alternativa que o professor tem naquele momento. O que é importante de se apontar hoje são as possibilidades.

O Sr. falou em culpa. Só reforçando, o Sr. acha que o professor usa a avaliação como poder em sala de aula, como forma de controlar o comportamento e até de punir aos alunos?

Não são todos os professores, mas com certeza tem sido uma das grandes funções da avaliação. Se você perguntar ao professor ele lhe diz que a avaliação é o processo contínuo que visa ...tal e tal...de modo a superar as dificuldades, tal.... No discurso até que ele já assimilou a idéia, mas na prática! Isso já aconteceu comigo também. Fui dar aula, sem a menor noção do que tava fazendo ali, caí de pára-quedas ali e no desespero fiz o que meus professores fizeram comigo. Puxei o “38” das notas, ameacei aos alunos e com o tempo fui me aperfeiçoando, me formando, me qualificando e percebendo o equívoco daquele tipo de prática. Em algum momento em nossa vida, ao não ser quem estudou de fato numa escola de linha alternativa tipo montessoriana, frenediana e outras, mas são poucas as pessoas com oportunidade de estudar numa escola dessas. Mas a maioria de nós que passou por essas escolas, é o que eu chamo no livro “Currículo” a estampagem que a escola faz nos alunos logo nos primeiros anos do ensino fundamental. E o aluno inteligente ele aprende. “-É isso que é escola? Então já sei como sobreviver nessa escola!” E uma das coisas que ele aprende é isso que a nota é para satisfazer o sistema, os pais, e aos professores. Só que o aprendizado fica longe. Ele acaba de fazer uma prova e duas semanas depois você aplicar o mesmo instrumento de avaliação, ele lembra muito pouco porque ele memorizou para fazer aquela situação, portanto não aprendeu.de forma significativa. Portanto é um aspecto muito delicado. Por isso temos recomendado uma mudança mais substancial a partir dos anos iniciais. A educação infantil graças a Deus, de um modo geral, está livre disso, pois já existe uma avaliação mais processual, a rodinha, os projetos, mas quando chega no começo do fundamental aí vem aquele discurso do “Agora é Sério, é pra Valer”. Se a gente conseguir manter nos primeiros anos do ensino fundamental a mesma lógica de avaliação que de um modo geral o ensino infantil tem, isso seria muito bom pra gente para ir aos poucos criando um nova concepção. É difícil para o aluno do ensino médio que foi condicionado o tempo todo na base da nota, dizer não e que o importante é a aprendizagem e que deve esquecer a nota. Ele foi marcado por isso na sua história de vida. Entendo que os melhores professores, apesar de que todos devam ser bons, os melhores devem estar nos anos iniciais justamente para poder fazer esse trabalho diferenciado, mostrar para o aluno que uma outra escola é possível.

Professor, gostaria de lhe agradecer em nome da DIREC 02 e pedir que deixe uma mensagem para os nossos profissionais da educação.

Acho que um aspecto fundamental é a gente resgatar o valor do nosso trabalho. Percebe-se muitas vezes hoje em dia, pela toda situação que o cerca, que o próprio professor acaba perdendo a dimensão da importância do seu trabalho. Na medida em que eu vou reconhecendo o valor do ensinar, do desenvolver, fazer aprender, se de fato eu acho isso importante eu vou fazer o melhor possível, vou me qualificar para isso e vou inclusive, avaliar. Então se eu consigo avaliar esse trabalho, eu vou percebendo as limitações, as correções, e a própria avaliação vai me ajudando a me tornar um professor melhor. Agora, devo fazer isso antes de mais nada, para mim mesmo, não é para o outro, nem para melhor o IDEB,. Isso é uma conseqüência, mas antes de tudo é um compromisso meu com esses alunos . Sobretudo na escola pública a gente sabe que para aquele aluno , às vezes aquele professor vai ser a única oportunidade que ele vai ter, naquele momento, para reverter sua destinação de exclusão. Infelizmente boa parte da nossa população é excluída e quando vai à escola e encontra uma avaliação excludente, ele é mais uma vez excluído. Sabemos das dificuldades dos professores, mas seria muito bom se eles tivessem um novo olhar em relação ao aluno. Não estamos negando a situação do professor. Mas que a gente possa rever essas situações e ter um trabalho de crescimento, de desenvolvimento, além da aprendizagem efetiva.

* Prof. Celso dos Santos Vasconcellos é natural de Jaú, São Paulo, casado, pai de três filhos, Doutor em Educação pela USP, Mestre em História e Filosofia da Educação pela PUC/SP, Pedagogo, Filósofo, pesquisador, escritor, conferencista, professor convidado de cursos de graduação e pós-graduação, responsável pelo Libertad - Centro de Pesquisa, Formação e Assessoria Pedagógica. Autor dos livros: Planejamento: Projeto de Ensino-Aprendizagem e Projeto Político-Pedagógico; Construção do Conhecimento em Sala de Aula; Avaliação: Concepção Dialética-Libertadora do Processo de Avaliação Escolar; (In)Disciplina: Construção da Disciplina Consciente e Interativa em Sala de Aula e na Escola; Para Onde Vai o Professor - resgate do professor como sujeito de transformação; Avaliação: Superação da Lógica Classificatória e Excludente; Avaliação da Aprendizagem: Práticas de Mudança - por uma práxis transformadora; Coordenação do Trabalho Pedagógico: do projeto político-pedagógico ao cotidiano da sala de aula; Currículo: A Atividade Humana como Princípio Educativo.

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