O educador Vasco Moretto, natural do Rio Grande do Sul, Mestre em Didática das Ciências,licenciado em Física e especialista em Avaliação Institucional, esteve nessa quarta-feira (20) em Feira de Santana para proferir palestra a convite do Colégio Estadual General Osório. O foco da palestra realizada no Teatro Municipal Margarida Ribeiro foi sobre Avaliação Interdisciplinar, com ênfase para o tema "A ética no dia-a-dia do professor competente em sala-de-aula”.
Na oportunidade, concedeu a seguinte entrevista para a jornalista Maria José Esteves, Assessora de Comunicação da Diretoria Regional de Educação de Feira de Santana-Direc02:
1.Professor, louvamos esta sua parceria com o Colégio Estadual General Osório, uma das 156 unidades escolares sob a jurisdição da Diretoria Regional de Educação de Feira de Santana-Direc02. Como culminou esta sua vinda a Feira de Santana?
Em função do convite que me fizeram pela preocupação que a escola tem sobre a nova maneira de avaliar. Avaliar dentro da nova linha da educação que é o da construção interativa do conhecimento. Meu objetivo neste encontro é exatamente auxiliar na formação contínua dos professores, porque muitos saem das universidades titulados, mas nem sempre qualificados. A qualificação vem ao longo da formação continuada.
2. O que lhe inspirou a se tornar um profissional da área educacional?
É uma longa história. Em primeiro lugar meu pai era professor, minha mãe era professora. Nós somos oito professores na família e tudo isso influenciou nesta minha vida como professor. Este ano é um ano especial para mim porque completei 50 anos de magistério, metade deles na sala de aula.
3. Quais valores, habilidades e características o Sr. considera essenciais para um líder em educação?
É sobre isto que vou falar hoje na palestra. A primeira é ser ético na profissão. Se ele for ético ele vai procurar a competência profissional. Se ele for ético e competente ele vai aprender a respeitar os alunos e prepará-los para uma sociedade nova, transformada, e não esta sociedade que parece que os valores éticos sumiram.
4. Tanto a ética quanto a moral são princípios necessários no trato com os alunos. Como aliar ao desempenho profissional, a ética e a competência?
Aí é que está o problema. Como eu defino, como eu conceituo ética como a conseqüência dos meus atos, se eu for competente quais as conseqüências dos meus atos? Eu vou ajudar a formar pessoas, cidadãos competentes do ponto de vista ético socialmente e competentes do ponto de vista profissional. E se eu for incompetente? Logicamente eu vou formar pessoas incompetentes.
5. Os métodos tradicionais de avaliação geralmente dão mais ênfase na aprovação do que na aprendizagem. Como escapar da idéia de que a avaliação é o objetivo final de um curso?
Na verdade é a conceituação das pessoas do que seja avaliação. Avaliação é um processo dentro do processo. É um processo que tem como finalidade redirecionar o seu trabalho como professor, além de verificar no estágio de que houve melhoras. Você tem que verificar que avaliar não é o final, é uma etapa do processo. Experimente rever, redirecionar e replanejar o seu novo processo e no final vai ter uma revelação e dizer se está no caminho certo ou não e assim vai ter uma nova avaliação. Percebeu? É um processo dentro do processo.
6. Mas é claramente percebido de que não é isto que acontece. Ou estou enganada?
É verdade que há uma tradição de que fez a prova e acabou. E o próprio aluno, quando na prova escrita o professor coloca algum assunto da prova anterior, reclama de que o assunto já caiu na outra prova. Isto quer dizer que é um aspecto cultural. E o que vai mudar a cultura é uma contracultura, trazer outra cultura, trazer outros valores e é por isto que vou começar minha palestra hoje falando sobre o que é ser ético e qual a diferença entre ética e moral para que o professor tenha essa consciência necessária nessa mudança.
7. Como observar a diversidade cultural e social em uma avaliação?
Na verdade é preciso respeitar desde que você saiba contextualizar estas questões para que elas possam revelar os aspectos culturais. Aí não pode ser prova só de “xiszinho”, pois ela não vai te dar esses elementos. Na verdade tem que usar outros instrumentos de avaliação onde você possa ver a linguagem dos alunos, o nível cultural que eles tem, ou o que ele conseguiu, o que ele compreendeu, o que significou ou não significou. Então nunca usar um instrumento só, e, sobretudo, respeitar as individualidades. Um menino que é tímido você não vai fazer uma avaliação oral, por exemplo. Aquele que não é bom na escrita, também você não deve avaliá-lo só de forma escrita porque aí não atesta realmente sua capacidade. O ideal seria usar diferentes instrumentos avaliativos para verificar as reais competências dos alunos.
8. Gostaria de lhe agradecer pela entrevista e lhe pedir que deixe sua mensagem para os profissionais de educação da Direc 02.
Minha mensagem é que se pense sobre a nova linha de educação no mundo e que se resume numa frase :“Construção interativa do conhecimento”. Isto quer dizer o conhecimento que o sujeito constrói interagindo com o professor, com os colegas, com a sociedade. É um processo de interação não de ação sobre que é o tradicional onde o professor sabe, passa a prova, o aluno decora, faz a prova e passa de volta ao professor.
Obrigado a você.
Sobre Vasco Moretto
Mestre em Didática das Ciências pela Universidade Laval, Québec, Canadá. • Licenciado em Física pela UnB e especialista em avaliação institucional pela Universidade Católica de Brasília-UCB. Foi diretor pedagógico da Associação de Ensino Unificado do Distrito Federal-AEUDF e atualmente dirige a VASCO MORETTO Consultorias Educcionais S/C Ltda. Com experiência docente de 50 anos, é um dos responsáveis pelo PAS (Programa de Avaliação Seriada) da UnB, primeira experiência brasileira de seleção diferenciada para acesso ao ensino superior em instituições de ensino superior públicas. Tem vários livros e trabalhos publicados, entre eles - Prova - um momento privilegiado de estudo não um acerto de contas e - Construtivismo: a produção do conhecimento em aula. Eloqüente, com talento e muita disposição, provoca reflexão e mudança na prática docente.
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